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Como escrever sua história autobiográfica

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6 min

Publicação:

6 de nov. de 2024

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Foto do escritorFarah Serra

Como escrever sua história autobiográfica

Diretrizes para começar


Veja como começar a escrever a sua história de vida e descubra como escrever uma autobiografia é um processo profundo e revelador.

Um alfabeto formado por pessoas sob uma folha escrita à mão.

Temos em nós um vasto universo de experiências, sentimentos e reflexões, somos formados por isso, e escrever sobre a nossa própria história é um convite para explorar esse sagrado repertório. Não por acaso, cedo ou tarde, nasce o desejo de registrar a nossa existência com todos os seus complexos e complexidades. Nada obstante, ao adentrar esse emaranhado de memórias e sensações, nos perguntamos: “Mas, por onde eu começo a escrever?”.

 

A resposta é tão simples que falo sem rodeios: escrevendo. Efetivamente, para escrever, precisamos de muito pouco: papel e caneta, ou, para quem preferir, um computador.

 

Ainda que eu seja apaixonada por esse assunto e saiba o quanto essa tessitura é preciosa, mesmo que seja incontestável que escrever sobre a nossa própria vida é muito mais do que um mero ato de escrever, tomo sempre cuidado quando falo sobre isso. Pois, quando nos apaixonamos por algo, relutamos em explicá-lo com simplicidade, porque isso, de algum modo, poderia diminuí-lo.

 

Entretanto, às vezes, sinto que o que falta, que tudo o que precisamos, é dar o primeiro passo ou encontrar um ponto de partida. Por isso, digo com muita prontidão e sinceridade, não há outro jeito de começar a não ser escrevendo.

 

O desafio, talvez, esteja em acreditar que temos algo valioso a compartilhar. É aqui que me detenho e minha resposta se alonga, visto que este é o cerne da escrita autobiográfica.

Escreva a sua história autobiográfica


Por certo, não dá para iniciar a narrativa da sua vida sem a compreensão de que só você pode contar suas próprias experiências. Por mais que elas tenham sido compartilhadas com outras pessoas, há nuances que apenas você conhece, basta se lembrar de como foi seu primeiro beijo. Tanto os grandes acontecimentos quanto as pequenas experiências do cotidiano (como um almoço recente, o seu último corte de cabelo), são carregados e motivados por significados profundamente íntimos e pessoais que só você é capaz de codificá-los. Ao passo que Hannah Arendt dizia que ninguém poderia contar sua história como ela mesma o faria [e não há dúvidas de que ela sempre soube do que falava].

 

Em suma, ter essa consciência é ter tudo o que você precisa para começar a escrever sua história. Pensar, sentir e interpretar as vivências da sua vida é uma tarefa que só você pode realizar. Aliás, como nos lembra Natalie Goldberg em seu livro Escrevendo com a Alma (WMF Martins Fontes,2008), devemos considerar isso “antes que a morte nos leve”.

Acreditar que temos algo valioso a compartilhar. Pensar, sentir e interpretar as vivências da sua vida é uma tarefa que só você pode realizar.

 Isto posto, vamos adiante.


Torne a sua escrita autobiográfica significativa


Dedique a sua presença

Outro aspecto importante é dar sentido e significado ao que você está fazendo, isso é primordial. Escrever sua própria história não é banal; deve ser tratado com a devida seriedade. Estamos falando de você, das suas memórias e da sua existência nesse espaço-tempo irreproduzível que você ocupa entre os mais de 8 bilhões [precisamente 8.184.038.520] de seres humanos que habitam a Terra neste mesmo momento. À primeira vista, pode soar como um indicativo de insignificância, mas trago essa informação para ressaltar a importância da sua singularidade na mais simples analogia do microcosmo x macrocosmo – nós estamos no universo e o universo está em nós.

 

Portanto, transforme seu momento de escrita em um ato sagrado de pertencimento e presença. Isto é, dedique-se a essa prática com carinho, enriquecendo os detalhes e sempre se lembrando de que cuidar é prestar atenção e prestar atenção é cuidar.

 

Consagre a sua escrita

Nesse sentido, uma orientação que costumo dar é que você ritualize a sua escrita autobiográfica.

 

Uma sugestão é que você comece escrevendo à mão, munido de um lápis de madeira, um lindo caderno e uma borracha macia. Apesar de isso [aparentemente] não influir no processo e depender diretamente das suas preferências pessoais, recomendo pela simbologia que eles portam [crendo ou não, essas simbologias ecoam no seu campo sutil, potencializando a sua experiência].

 

Escrever à mão é uma expressão direta da sua individualidade e simboliza algo extremamente pessoal. A sua caligrafia aflora diretamente de você com todas as suas imperfeições e particularidades, ela é um dos seus traços pessoais que não podem ser completamente replicados.

 

Outra razão é que, quando escrevemos à mão, iniciamos um processo de alinhamento interior, onde pensamentos e sentimentos se manifestam de forma tangível, pois há uma conexão física entre o corpo e a mente que perpassa o lápis e o papel. Por ser uma escrita mais lenta e deliberada, ela também evoca a reflexão, a paciência e a presença no momento. Provavelmente por isso, dizem que a escrita à mão está ligada ao movimento do coração.

 

Eu adoro escrever à mão, principalmente quando estou falando dos meus sentimentos, acho interessante observar e sentir a textura da minha escrita. Às vezes escrevo mais forte, pressionando mais a mão, noutras mais leve... depende muito do que coloco para fora.

 

O lápis de madeira, nesse ponto, é excepcional, pois carrega muita representatividade. Apesar de ser um objeto humilde, não há nada supérfluo nele. A começar que nos endereça ao início da nossa história com a escrita, nos bancos da escola. A madeira que se conecta à natureza, e mesmo que se desgaste com o uso, é sempre útil por proteger o grafite até seu fim.

 

O fato de poder ser facilmente apagado remete à liberdade de errar e corrigir, permitindo experimentação e evolução. Também evoca a sabedoria, como as ideias de criação, renovação, conhecimento e a conexão com o essencial. Conexões que lembram nossas raízes e espelham tanto a impermanência das palavras e da vida quanto a oportunidade de nos reescrever e reinventarmos.

 

Para você, ele pode representar ainda o começo de uma jornada criativa, o primeiro rascunho de uma obra ou o ato de se tornar autor da sua própria história ao descrever os caminhos da sua jornada.

 

O caderno e a borracha falam por si.

 

Zele também pelo lugar: onde você vai escrever? Crie um ambiente favorável: procure um espaço organizado, aconchegante e com uma iluminação adequada. Ademais, se gostar, escolha uma música tranquila e pegue algo para beber.

 

Entregue a sua confiança

Doravante, escreva. Mesmo que suas ideias lhe pareçam confusas, coloque-as no papel. Essa escrita não tem tempo, formato, pontuação, nem certo ou errado. Tudo pode. Não se desconcentre com regras ortográficas e gramaticais, nem com as normas de escrita e estilo, elas são desnecessárias nesta fase. O mais importante, neste início, é que você escreva para si mesmo. O sentido virá com o tempo, com a própria tecitura da história, e a prática tornará tudo mais fácil e natural.

 

Escrever sua história autobiográfica é uma forma de arte. Encare e assuma a sua escrita, sabendo que a sua narrativa muda com base em quem você é e no que sente no momento da escrita. Por isso, se um argumento te levar a uma escrita profunda, não perca a magia desse momento. O Universo sabe o que faz, tenha sempre isso em mente.

A sua narrativa muda com base em quem você é e no que sente no momento da escrita.

A beleza da escrita da sua história autobiográfica reside na liberdade de sentir, refletir e registrar seus momentos de maneira verdadeira. Ao dar esse passo, você não apenas registra o que viveu, mas também cria possibilidades de se entender e, quem sabe, reescrever sua história. Como costuma dizer Duccio Demetrio (professor italiano que estuda a prática e o ‘pensamento autobiográfico’), “essa coisa de se contar em primeira pessoa pode ser uma brincadeira feliz, uma experiência incomum que cura, uma aventura de muitos significados”. 

 

Ofereça a sua história

Quando sentir que está pronto para ir mais fundo, dê outro passo e transforme sua história em algo a ser compartilhado com os outros. Aí, sim, é hora de organizar, cortar, ajustar, editar e criar narrativas mais interessantes e bonitas.

 

A partir daí, você acessa o outro lado da moeda da escrita autobiográfica: a compreensão de que não está sozinho, de que não é a única pessoa a vivenciar suas circunstâncias. Toda dor e toda alegria que você sentiu fazem parte da condição humana. Surpreendentemente, você não é tão diferente assim dos seus 8 bilhões de contemporâneos. Inesperadamente, você se abre ao acolhimento, auto e altrui [que significa outro, em italiano | autoacolhimento e acolhimento dos outros].

 

Enfim, em princípio, a escrita autobiográfica não se limita a uma questão metodológica. Ela é uma prática livre, construída ao longo do tempo. Pessoalmente, defendo que não há um manual ou um passo a passo. Não criei e acredito que nunca criarei um conjunto de regras e instruções do tipo “leia isso e só depois escreva sua autobiografia”. Cada um tem a sua história, a sua escrita autobiográfica e o seu momento apropriado para compartilhar sua vida. Procurar uniformizar isso é tirar a essência.

 

E por fim, escreva! A única maneira errada de começar essa escrita é com o coração fechado e com medo de expressar honestamente o que você pensa e sente. O mais importante é começar a escrever, acima de tudo, com a coragem de se colocar no papel, por inteiro.


Está pronto para começar a escrever sua autobiografia? Deixe um comentário contando como se sente ou compartilhe este artigo com quem também deseja começar essa aventura!

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